Exposição anterior:
Rui Serra
20 Mil Anos Depois
de 2011-10-01
a 2011-11-03
A Patagónia é um lugar mítico, presente no imaginário universal, tão bem descrito por Bruce Chatwin nos seus livros.
Quando regressava das Torres del Paine, deslumbrantes montanhas situadas no sul da Cordilheira dos Andes, detive-me em Puerto Natales, província da Patagónia chilena denominada Última Esperanza. Dispunha de algumas horas, pois aguardava a ligação do autocarro que me levaria a uma das cidades mais austrais do mundo – Punta Arenas.
Ali, em Puerto Natales, enquanto percorria as suas ruas, iluminadas pela luz dura e fria, as cores vibrantes das suas casas, evocavam-me tantas histórias acontecidas. As imigrações do século X IX, as presenças ou ausência indígenas fruto do genocídio ocorrido nesta zona, as insurreições e a Comuna de 1919, organizadas por anarquistas, os aventureiros que por aí haviam passado, assim como, famosos bandidos perseguidos por xerifes.
Tudo isto conferia àquele ambiente uma atmosfera de mistério semelhante ao de uma povoação do Far West, dos já longínquos anos de oitocentos.
As poucas horas de que dispunha levaram-me a brincar com o tempo em forma de exercício íntimo com a minha câmara. O estímulo provocado pelo entorno, com ruas e casas de arquitectura peculiar, fazia com que surgisse uma quantidade de ideias e recordações. Umas racionais e organizadas, outras espontâneas e caóticas, ligadas à experiência vital. O carácter lúdico da minha atitude de entrelaçar o tempo com conceitos e com o olhar comandou o obturador da câmara que também é tempo.
A história, a poesia, a literatura e as minhas vivências tornaram-se presentes nessas reflexões.
São algumas delas que desejo partilhar convosco através deste trabalho, jogo do tempo, que não é outra coisa senão a metáfora da minha vida.
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