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Tamirys Araujo , Relicário I, 2024. óleo sobre papel 100 x 70 cm.jpg<br>© Tamirys Araujo , Relicário I, 2024. óleo sobre papel 100 x 70 cm.jpg

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Tamirys Araújo

As feridas da Paisagem

de 2024-08-31 a 2024-09-26

As Feridas da Floresta

É na ferida que nos reconhecemos como parte da natureza. Quando estamos machucados,
olhamos para dentro para identificar de onde vem o problema. Procuramos e investigamos
as lesões e, assim, conseguimos perceber mais claramente que somos feitos de partes vivas,
que dependem e só existem porque coexistem com um todo vivo.
Ser parte e perceber-se parte do todo é uma das saídas mais sustentáveis e radicais de nosso
tempo. Quando nos reconhecemos como parte da natureza, interagimos e cuidamos do que
é nosso com mais afinco, comprometidos com o bem-estar coletivo. As feridas nos alertam
para certos desvios que tomamos dessa consciência e, como ímãs, são capazes de nos puxar
novamente ao cerne da questão, para que, atentos, possamos partilhar curas.
O trabalho de Tamirys Araújo se desenvolve a partir desse ímã de consciência que a faz
explorar a natureza de fora para dentro. São cicatrizes que atravessam camadas de pele,
tecidos e órgãos em diálogo com elementos estruturantes da floresta, como a casca, a seiva
e o cerne das árvores, para, assim, nos contar novas histórias. A série de trabalhos “Solo I e
Solo II”, realizados ainda no Brasil, explora elementos da natureza, florestas e vegetações
ainda iluminadas pela luz do dia, com tons quentes em amarelo. O percurso segue pelas
florestas escuras em “Anoitecer”, onde os elementos da natureza e o instinto humano estão
mais alertas, atentos aos possíveis perigos noturnos.
Nesse desbravar, a artista adentra a natureza do corpo humano, profundo e escuro, através
das próprias feridas, usando como referência as imagens de ressonância magnética. Araújo
reinterpreta as imagens das feridas encontradas em seu útero na série de trabalhos
“Segredos da Raiz”, “Nas Entranhas” e “Ferida Desconhecida”, criadas ao longo de 2024. São
feridas que a fizeram reconhecer-se como parte viva da natureza e, hoje, nos proporcionam
um novo olhar sobre a dor, mas, sobretudo, sobre a capacidade regenerativa do
corpo-natureza.
A busca por essa regeneração muda de paisagem e chega a Lisboa, onde os trabalhos de
Araújo passam a experimentar novas temperaturas, numa transição dos vermelhos
iluminados para os frios dos azuis e roxos. Nessa tensão entre quente e frio, a densidade dos
tons mais escuros nos convida à introspecção, a olhar para as profundezas do corpo e a nos
aconchegar no silêncio do interior.

A artista traz à tona, em tintas e papéis, cicatrizes ainda recentes, que, frescas, escorrem
lembranças, como na mancha de óleo que sombreia os seus trabalhos. É nesse elemento
simbólico que escorre e habita as dores também invisíveis que carregamos.
Assim como os ciclos da natureza, o corpo, que aqui é marcado pelas feridas uterinas —
órgão emblemático na criação da vida e nas lutas por igualdade —, segue o mesmo fluxo
cíclico e retoma a atenção para fora, em contato com a natureza enquanto matéria. As
formas das florestas e rios retomam o protagonismo nas experimentações pictóricas de
Araújo, e o choro das feridas da floresta ganha destaque na série “Vazio”.
Influenciada pelos trabalhos de Leda Catunda, Cristina Canale e Adriana Varejão, a artista
retorna ao ateliê e propõe um novo olhar sobre as feridas, na tentativa de recontar a história
de suas marcas por uma perspectiva mais sensível. Experimentando novas texturas no
espaço vazio, Araújo investe no protagonismo da mancha e das cores mais frias e estéreis. O
lugar que habitava feridas dá vazão a formas mais silenciosas, onde a paisagem da floresta,
agora discreta, recupera outras histórias.
A partir desse ciclo de submersão e emersão nos espaços da natureza, das feridas que
habitam todo o nosso sistema, os trabalhos de Araújo nos relembram da urgência em
resgatar as histórias das florestas, suas belezas e, principalmente, suas feridas ainda abertas.

Clarissa Godoy
Historiadora e Doutoranda em Estudos de Género – CIEG/ISCSP/Universidade de Lisboa

Tamirys Araujo , Relicário I, 2024. óleo sobre papel 100 x 70 cm.jpg<br>© Tamirys Araujo , Relicário I, 2024. óleo sobre papel 100 x 70 cm.jpg
Tamirys Araujo, AnoitecerI, 2023. óleo sobre papel 150 x 110 cm <br>© Tamirys Araujo, AnoitecerI, 2023. óleo sobre papel 150 x 110 cm
Tamirys Araujo , Vazio XI, 2024. óleo sobre papel 150 x 74 cm<br>© © Tamirys Araujo , Vazio XI, 2024. óleo sobre papel 150 x 74 cm
Tamirys Araujo , Vazio XI, 2024. óleo sobre papel 150 x 74 cm<br>© Tamirys Araujo , Vazio XII, 2024. óleo sobre papel 150 x 74 cm
<br>© Tamirys Araujo , Vazio XI, 2024. óleo sobre papel 150 x 74 cm
<br>© Tamirys Araujo - Vazio III, 2024 - Óleo sobre papel - 61 x 45 cm
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