Exposição anterior:
António Trindade
António Trindade | Just Flow
de 2021-09-10
a 2021-10-14
JUST FLOW
Experienciar sensações novas, raras e por vezes interditas são sempre momentos apetecíveis e tentados, quer por experiência directa, quer por pensamentos ou sensações oníricas. Esta ideia e vontade de liberdade ainda mais se acentua nos recentes ciclos de pandemia que obrigaram a confinamentos rígidos e ao encerramento do ser que se viu condicionado a emergir em realidades virtuais como o tele-trabalho. Mas esta recente emersão virtual do homem em espaços fechados e confinados, provocada não só pelos efeitos dos recentes ciclos da pandemia como também de outros constrangimentos e interdições, suscitam ou reacendem no espectador novas emersões, por vezes com uma mensagem política subjacente mostrada ocasionalmente pelo acto transgressivo como a inclusão do elemento do fumo, por exemplo, perturbador de ambientes. Nestas realidades emersivas, só aparentemente impossíveis, mostram-se corpos aparentemente à deriva, muitos deles em escorço, deambulando, vagueando, nadando e boiando, em finais de tardes e noites e em águas de geografias diversas e desconhecidas. Nesta série de trabalhos encontram-se figuras femininas em mares, rios e piscinas, que por vezes parecem estar em sono profundo ou em estados sonâmbulos e à deriva, sem rumo, fluindo em águas cercantes. Nesta emersão de figuras flutuantes e deambulantes em escorço, vem também à memória e é uma referência a pintura renascentista da representação de Cristo em escorço de Andrea Mantegna, emersa num silêncio desconcertante. Outro aspecto que quis explorar nesta série de pinturas foi a tensão de determinadas situações deliberadamente encenadas, na realidade quase ou mesmo impossíveis. A impossibilidade e o real impossível são sempre estimulantes. Explorei e encenei estas aparentes impossibilidades de situações de tensão em equilíbrio em trabalhos como “The Glass”, “Smoke and Politics”, “Just Flow-The Pool” entre outros. Aqui particularmente mostram-se figuras que deambulam, flutuam e se apoiam em matérias e ambientes fluídos como é o caso da água líquida, por vezes segurando, aparentemente de forma absurda, objectos transgressivos, como um simples copo de vinho, prestes a derramar o seu conteúdo, como noutras situações a um simples cigarro aceso, que, em ambos os casos, a qualquer momento podem contaminar os ambientes na proximidade. Paralelamente e noutros trabalhos encenam-se situações evasivas e igualmente tensas, provocadoras, como a propagação e movimento de outros fluídos aéreos como o fumo ou vapor de água, resultantes de combustões e evaporações que contrastam e por vezes chocam com a fluidez da água limpa e translúcida situada em proximidade. Em síntese, figuras e fluídos vagueiam e deixam-se ir nas correntes da água, do ar e do tempo sem destino determinado. Mas até quando? Just Flow, portanto.
António Trindade, 9 de Agosto de 2021.
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