Exposição anterior:
PAULO DAMIÃO
“ How to survive an Island” ou “ Como sobreviver a uma ilha”
de 2020-05-18
a 2020-07-08
“Sonho-me às vezes rei, n'alguma ilha,
Muito longe, nos mares do Oriente,
Onde a noite é balsamica e fulgente
E a lua cheia sobre as aguas brilha…”
em Sonho Oriental, de Antero de Quental.
Esta exposição surge como resultado de uma viagem que fiz a uma ilha, a Irlanda. É, também, naturalmente, o reflexo do efeito que este percurso físico, emocional e espiritual teve em mim. Isto, talvez, pode ter sido proporcinado por já pertencer a uma outra ilha; a ideia abstrata de já lá ter vivido em tempos, mesmo sem isso nunca ter acontecido, numa espécie de catarse, um sentimento ancestral de pertença.
Esta viagem alertou-me para mais questões do que respostas. Somos todos ilhas e dentro delas a fragilidade de quase sempre sermos o seu único ilhéu. Reconheci rostos e paisagens; revi conhecidos/ desconhecidos, cheiros, casas, a cozinha de conforto. Revivi a poética de pertencermos a um lugar.
Viver numa ilha é, ao mesmo tempo, resistir ou deixar-se seduzir pelo seu horizonte e ter a ideia de fuga e refúgio nas mesmas proporções, envolvida no mesmo desejo. Um ilhéu é um sobrevivente de si próprio, todos os dias.
Uma ilha é como uma mãe, ora com mil braços até ao coração, ora com mil setas até o endurecer ou ferir.
Paulo Damião
“How to survive an Island”
“Sometimes I dream of being a king, on some island,
Far away, in the seas of the East,
Where the night is balmy and glowing
And the full moon shines over the waters…”
in Sonho Oriental, by Antero de Quental.
This exhibition comes as a result of a trip I made to an island, Ireland. It is also, of course, a reflection of the effect that this physical, emotional, and spiritual journey had on me. This, perhaps, may have been provided because I already belong to another island; the abstract idea of having lived there in times, even though it never happened, in a kind of catharsis, an ancestral feeling of belonging.
This trip alerted me to more questions than answers. We are all islands and within them the fragility of almost always being their only islander. I recognized faces and landscapes; I saw acquaintances / strangers, smells, houses, the comfort kitchen. I relived the poetics of belonging to a place.
Living on an island is, at the same time, resisting or letting yourself be seduced by its horizon and having the idea of escape and refuge in the same proportions, involved in the same desire. An islander is a survivor of himself, every day.
An island is like a mother, sometimes with a thousand arms embracing the heart, sometimes with a thousand arrows that harden or hurt you.
Paulo Damião